O que se sente quando não precisa mais se preocupar com dinheiro.



Eu cresci em uma humilde mas boa vizinhança, com minha mãe tendo que cuidar sozinha da familia. Bebida, drogas e problemas de família, anarquia permeou as paredes de nossa casa infestada de baratas. Sem mencionar toda a bagagem que vem com esse estilo de vida: descontentamento, ansiedade, incertezas, depressão. Para adicionar insultos a injúria, nós estávamos quebrados. Não me lembro quantas vezes nossa energia foi cortada na rua Doutor Osvaldo Urioste. Até o momento a vida adulta estava a minha porta, eu pensei se fizesse dinheiro suficiente eu poderia ajudar; Eu poderia de alguma forma alcançar a felicidade (ou pelo menos financiar a felicidade). 

Sendo assim eu passei meus “vintes anos” subindo a escada corporativa.Ao mesmo tempo que conciliava o colégio eu encontrei um trabalho em uma loja de roupas, muitas vezes trabalhando 8, 9 horas por dia, 6 e 7 dias por semana. Eu não era muito boa em vendas mas eu aprendi a me virar.Foi quando eu me encontrei um dia em minha cama, olhando todo o dinheiro que tinha ganhado mas que não tinha tempo para gastar devido as longas horas de trabalho, decidi que não era isso que queria.Me demiti.Foi a primeira vez que percebi que dinheiro não era importante para a minha felicidade. Porém tinha um sonho de ser feliz, e ao contrário das crianças que tem o privilégio de dedicar a vida aos estudos eu precisava trabalhar. Foi quando encontrei um trabalho em um escritório, que me fazia muito feliz, e embora eu recebesse apenas 3.000 reais por ano eu me senti a pessoa mais feliz do mundo, eu comprei minha TV, meu rádio, as roupas que eu queria, o dinheiro parecia multiplicar, só porque eu estava feliz.Aos 20 anos eu estava ganhando mais que 8.000 por ano, mais do que minha mãe ganhava, mas eu estava gastando mais do que ganhava com o cartão de crédito, débito, crediários. Foi aí que me vi precisando trabalhar cada vez mais para ter mais dinheiro, para pagar a faculdade de administração que havia começado.Sendo assim eu trabalhei duro, e após uma série de promoções – gerente de compras 23 anos - supervisora administrativa, 25 anos – Eu estava com 27 anos sendo a mais nova chefe de uma empresa com mais de 140 anos de história. Eu tinha me tornado uma mulher de carreira mais rápido do que tinha imaginado. O que significava que se eu trabalhasse mais e se tudo saisse como eu havia planejado eu poderia ser vice diretora, diretora, presidente com 35 ou 40 anos de idade – conquistando todos os CEO, CFO, COO que viria a seguir. Eu precisava apenas trabalhar mais uns anos para marchar através das políticas corporativas e burocracia que eu conhecia muito bem. Apenas crescendo e não olhando para baixo. Então eu fiz, e não olhei para baixo, deixando de lado meu sonho acalantado de cantar que só eu sabia que tinha.Você não deve perguntar para uma pessoa que ganha 20.000 por ano como fazer 100 mil. Talvez isso valha para os homens que contenham o verdadeiro descontentamento e talvez felicidade também. Todas essas pessoas que eu queria me tornar – as pessoas bem sucedidas, os VIPS e executivos – não eram felizes, na verdade eles eram miseráveis.Não me leve a mal, eles não eram más pessoas, mas suas carreiras tinham mudado eles, alterado-os psicologicamente e emocionalmente. Eles explodiam em raiva acima de insignificantes inconvêniencias. Eles franziam a sobrancelha constantemente, como se o mundo estivesse conspirando contra eles, ou eles fingiam falso otimismo que nunca enganava ninguém. Eles estavam em seu Segundo, terceiro ou quarto casamento! E quase sempre se sentiam sozinhos. Completamente sozinhos em um mar de homens e mulheres.Nem me fale sobre seus problemas de saúde.Eu falo sobre sérios problemas de saúde, obesidade, cancer, ataque do coração, problema de pressão, entre outros. Esses homens e mulheres foram fragelados com cada doença associada com o estress e ansiedade.Alguns até usavam isso como uma espécie de mórbida distintivo de honra, como se fosse nobre ou corajosa ou algo assim.Um colega de trabalho, um bom amigo meu em uma trajetória similar, teve seu primeiro ataque cardíaco quando eu tinha 28 anos. Ele tinha acabado de fazer 30. Mas eu seria a exceção, certo?Sério? O que me fazia tão diferente? Simplesmente dizendo que eu seria diferente não me fazia diferente. Todo mundo diz que ele são diferentes, que as coisas serão diferentes quando eles estiverem no comando, só precisa sacrificar mais algumas horas, mais algumas semanas, meses, anos até chegar lá.Mas quando chegamos lá, o quer que tenha lá, e depois o que?Nós não trabalhamos menos. Cada vez trabalhamos mais. Mais horas, mais demanda, mais responsabilidade. Nos tornamos cachorros nos debatendo na coleira das nossas próprias obrigações.Ligando para os medicos, nadando em meio a e-mails, mensagens de texto, telefones e todos outros tipos de tecnologia. Mas diferente dos medicos, nós não estamos salvando ninguém. Nós mal podemos nos salvar. Você vê, dinheiro não faz esses homens felizes, dinheiro não trouxe a esses homens senso de segurança. A busca pelo dinheiro – A busca cega por mais – os deixou alejados, modificando eles, fazendo eles cada vez mais inseguros.Eu conheci pessoas que ganhavam meio milhão em um ano, mas que era uma bagunça financeira, eles não conseguia nem mesmo conseguir um empréstimo para um Corolla.E todos estes homens tinham outra coisa em comum: muitas luas atrás, eles também achavam que seria diferente.Como eles, eu descobri uma vez que alcançando um certo nível de sucesso, o mais rápido possível, como eu fiz, eu não precisaria mais me preocupar com dinheiro.Mas a verdade é que voltando a Rua Doutor Osvaldo Urioste não era a falta de dinheiro que nos fazia pobres. Não, nós éramos pobres por causa de pobres decisões, repetidas por pobres decisões. Hoje em dia eu ganho muito menos, mas minhas decisões são as melhores, porque me faz feliz.Ano passado trabalhando como garçonete eu paguei minhas contas, conheci países, me senti segura e o mais importante não me preocupei com dinheiro.Sendo assim, acho que isso é o que se sente por não se preocupar mais com dinheiro, um sentimento de que eu não preciso ganhar uma pilha de dinheiro para se sentir feliz, acontece que boas decisões – não dinheiro – nos permite deixar de lado  a preocupação que nos assola. Uma vez que eu deixei de lado minha preocupação eu não tinha mais nada para me preocupar.A felicidade para mim não tem preço.



0 comments:

Post a Comment